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Gabriel pimenta 1
22/04/2025

Equipe realiza filmagens no Pará e em Brasília para documentário sobre Gabriel Pimenta

Por: Luiz Carlos Torres – Kaizim, funcionário da AMAC e conselheiro fiscal do SINSERPU-JF

Entre os dias 22 e 30 de março de 2025, a equipe de filmagens do projeto “Gabriel Pimenta: Semeador de Esperança” percorreu mais de 2.500 quilômetros, de Juiz de Fora (MG) a Belém, Marabá (PA) e Brasília (DF), para registrar a história de Gabriel Sales Pimenta, advogado assassinado em 1982 por defender trabalhadores rurais no Pará. O documentário com previsão de lançamento em dezembro de 2025, busca não apenas resgatar a memória do militante, mas também reacender debates sobre justiça, reforma agrária e violência no campo no Brasil.

Nascido em 1954 em Juiz de Fora (MG), Gabriel formou-se em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e, movido por um ideal de justiça social, mudou-se para o Norte do país na década de 1970. A convite da Comissão Pastoral da Terra (CPT), atuou como advogado de movimentos sociais em Goiás e Pará, fixando-se em Marabá, epicentro de conflitos agrários.

Sua trajetória foi marcada por vitórias históricas. Em 1981, tornou-se o primeiro advogado a garantir na Justiça o direito de posse a famílias sem-terra na região de Pau Seco (PA), derrubando uma ordem de despejo ilegal emitida sem audiência prévia. A decisão, favorável a 160 famílias em litígio contra os fazendeiros Nelito e Marinheiro, irritou poderosos latifundiários.

Poucos meses após a vitória judicial, em 18 de julho de 1982, Gabriel foi executado com três tiros em uma rua de Marabá. Os acusados — os próprios fazendeiros Manoel Cardoso Neto (Nelito), José Pereira da Nóbrega (Marinheiro) e Crescêncio Oliveira de Sousa — foram denunciados, mas jamais presos. O crime, emblemático da violência contra defensores de direitos humanos no campo, só foi reconhecido internacionalmente em 2022, quando a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) responsabilizou o Brasil por violações à Convenção Americana, destacando a falta de investigação e reparação.

A equipe do documentário, composta por Rafael Pimenta (irmão de Gabriel e Presidente do Instituto Gabriel Pimenta de Direitos Humanos), pelo professor Américo Galvão (Proponente do projeto, membro da Fundação Cultural Casarão das Artes e documentarista), Luiz Carlos Torres – Kaizim (Membro Titular do Conselho Fiscal do SINSERPU e documentarista), Rubens Ragone (Professor do IF Sudeste-MG e documentarista) e Ugo Soares (CINEFANON e documentarista), mergulhou em locais-chave da trajetória do advogado. Em Belém a equipe entrevistou a ex-esposa do advogado Paulo Fonteles, que teve forte influência na trajetória de Gabriel na Comissão Pastoral da Terra (CPT). Também foi realizado um encontro com cerca de dez amigos e companheiros do movimento estudantil, onde foram colhidos depoimentos individuais. Entre as entrevistas destacadas está a do secretário de Direitos Humanos do Pará, Dr. Jarbas Vasconcelos, que declarou apoio ao documentário. Também foram ouvidos o jornalista Paulo Ferreira, ex-dirigente do jornal Resistência nos anos 1980, e representantes da OAB Pará, como o presidente Dr. Sávio Barreto e a presidente da Comissão de Direitos Humanos, Dra. Luana Tomaz.

Em Marabá, a equipe do documentário seguiu um roteiro marcado pela memória, pela resistência e pelo impacto duradouro da atuação do advogado na região. A primeira parada foi na Escola Estadual Gabriel Pimenta, onde mais de 200 estudantes e professores participaram de uma roda de conversa sobre a vida e o legado do patrono da instituição. Em um encontro emocionado e repleto de curiosidade, foram exibidas fotos e vídeos que ajudaram a contextualizar a importância histórica de Gabriel, muitos dos quais desconhecidos pelos alunos até então.

Outro ponto simbólico visitado foi o Bar Bacaba, local onde Gabriel Pimenta foi assassinado em 1982. As filmagens buscaram resgatar o significado trágico e histórico que o local carrega para a comunidade e para a luta pela reforma agrária no país.

A equipe também seguiu até a região de Pau Seco, onde Gabriel atuou na defesa de 160 famílias que haviam sido despejadas ilegalmente. Graças a sua atuação, as famílias puderam retomar as terras ainda em 1981, marco fundamental na luta contra o latifúndio. Durante a visita, sobreviventes da época relataram episódios de resistência e destacaram a importância de Pimenta como figura central na conquista da terra e da dignidade para os camponeses da região.

O roteiro incluiu ainda uma visita ao Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Marabá, organização fundada com o apoio direto de Gabriel Pimenta. O sindicato é mais uma prova de que sua militância ultrapassava os limites da questão agrária, refletindo seu compromisso amplo com os direitos da classe trabalhadora.

Cada uma dessas paradas foi registrada em vídeo e fotografia, compondo um mosaico de lembranças, lutas e homenagens que ajudarão a dar forma ao documentário e manter viva a memória de um dos mais importantes defensores dos direitos humanos no campo brasileiro.

A pesquisa também explorou arquivos da CPT em Marabá, recuperando documentos inéditos sobre o caso, enquanto em Brasília, o último dia de filmagens focou em entrevistas com ativistas que vinculam a luta de Gabriel aos desafios contemporâneos.

A equipe enfatizou o caráter educativo do projeto. Palestras na UNIFESSPA e atividades em escolas reforçaram o diálogo entre passado e presente. “Queremos que o filme seja um instrumento pedagógico contra o esquecimento”, afirmou Luiz Carlos Torres – Kaizim.

Com lançamentos previstos para Juiz de Fora, Belém e Marabá, o documentário chega em um momento sensível: quatro décadas após o crime, a impunidade persiste, e a reforma agrária segue inconclusa. Para comunidades rurais do Pará, reviver a história de Gabriel é manter viva a esperança — semente que, como ele, ainda resiste.

O documentário tem produção apoiada pelo Instituto Gabriel Pimenta de Direitos Humanos e Lei Paulo Gustavo e pretende resgatar essa memória e fortalecer o compromisso com a justiça social e a defesa dos direitos humanos no campo brasileiro.

Fotos: a Escola Estadual Gabriel Pimenta (1), equipe (2 e 3, com Kaizim à direita), a região do Pau Seco (4) e o Processo Criminal Gabriel Sales Pimenta-CPT (5))


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