“Não se nasce mulher, torna-se mulher”.
No Dia Internacional da Mulher – também semana e mês dedicados a Elas – o SINSERPU-JF reverencia todas as Mulheres nesta terça-feira (8 de março) e mais que isso: lembra todas as lutas de todos os dias, de um cotidiano marcado ainda por desrespeito, desvalorização, preconceito e desigualdade de gênero. E essa realidade é vista com propriedade, indignação, sensibilidade e firmeza por elas.
Leia abaixo o depoimento de uma representante delas, a diretora de Saúde do SINSERPU-JF, Deise Medeiros.
A enfermagem é uma área de atuação historicamente construída e desempenhada por mulheres. Profissionais de hoje, que constituem 85% da força de trabalho da área no país, segundo pesquisas do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). O trabalho das mulheres antigamente era direcionado quase exclusivamente ao cuidado. Cuidavam dos maridos e filhos em casa, e mais tarde passaram a sair para cuidar do outro, contextualizando sobre a grande participação das mulheres na área, comparativamente a outros setores.
A profissão ganhou destaque pela sua importância durante a atual pandemia, trazendo protagonismo mundial para a enfermagem e para as mulheres que a compõem. As mulheres se tornaram símbolo da importância da enfermagem para o sistema de saúde, mas, também, da liderança nesse ramo.
A maioria de nós trabalhamos na assistência direta aos pacientes, e ficamos expostas ao maior risco de contaminação por Covid-19. Profissionais de enfermagem são responsáveis pelo cuidado com os pacientes de um hospital ou UTI em tempo integral, além de fazerem a gestão de equipes multidisciplinares e estarem na linha de frente. A enfermagem deixa suas casas e suas famílias para cuidar do outro. Sem falar que muitas dessas mulheres têm dupla ou tripla jornada de trabalho, pois após os plantões continuam sendo mães, donas de casa e responsáveis pelo sustento do lar, mediante principalmente ao aumento da carga de trabalho durante a pandemia.
A rotina é puxada, de grande responsabilidade, mas também é muito gratificante cuidar de cada paciente na sua integralidade e individualidade. É a oportunidade de colocar em prática as habilidades que adquirimos na nossa vida profissional e de aprender algo novo a cada dia.
Cada plantão é um novo desafio não apenas profissional, mas também pessoal. Além do desgaste físico e emocional, vivemos com medo pois estamos expostos, longe da família e amigos. A carga psicológica é intensa, temos que nos cuidar para podermos cuidar dos outros. Neste cenário, o que nos motiva é a possibilidade de fazer a diferença na vida dos pacientes para além do tratamento físico, com humanidade e conhecimento científico.
Tenho orgulho das mulheres que se doam à enfermagem, que salvam vidas todos os dias. É uma honra fazer parte disso e aprender com elas, destacando a importância da enfermagem tanto para o sistema de saúde quanto para a recuperação da parcela da população afetada pela Covid-19.
A atuação feminina é baseada em empatia, nós aprendemos muito com os pacientes e outros profissionais, vivemos a profissão como ela é.
A enfermagem está em contato direto com os pacientes e, muitas vezes, é triste ver como somos tratados em alguns hospitais por aí. Meu objetivo é cuidar dos pacientes como eu gostaria de ser cuidada, com empatia e respeito. Pelo fato da profissão ser majoritariamente ocupada por mulheres, as auxiliares, técnicas de enfermagem e enfermeiras muitas vezes sofrem com a falta de reconhecimento da profissão e a deslegitimação de seu conhecimento. Isso gera a percepção errada de que somos menos qualificadas, uma visão estereotipada e até sexualizada da nossa profissão, é importante desmistificar a área da enfermagem para que as mulheres possam ser valorizadas pelo seu trabalho na assistência e na essência.
Agora podemos voltar à nossa questão inicial, o que ser uma mulher? Para Simone de Beauvoir“não se nasce mulher, torna-se mulher”. Sendo assim, essa é uma questão em aberto, que cada mulher pode responder de modo diferente através de suas escolhas
Com isso ela queria dizer que o ser humano não tem uma essência ou identidade definida ao nascer. Ao contrário, primeiro existimos e a partir das escolhas que fazemos vamos definindo nossa essência, aquilo que somos. Portanto somos mulheres e profissionais de Enfermagem!”